TER DÓ DE ALGUÉM








Uma coisa é clara: se você sente pena de alguém, está querendo resolver situações ou mudar a vida dessa pessoa que, na sua avaliação, está com algum sofrimento. A verdade é que ter dó, na maioria dos casos, esconde uma crença de que os outros não são capazes de resolver os seus problemas, ou seja, apesar de você querer ser solidário, não acredita na capacidade do outro. É um sentimento “meio pobre”, enfermiço, que não enriquece quem sente nem quem é alvo dele. Isso não é amor, é neurose. É como se pena fosse amor e, sendo assim, sua obrigação seria colocar sobre suas costas as dores, as dificuldades e a vida de quem você ama. Toda vez que sente dó de alguém, primeiramente está dizendo que não acredita na competência daquela pessoa para resolver os desafios que a ela pertencem e, além disso, está aplicando o princípio de que amar é adotar o outro e tomar conta da vida dele. Com base no princípio da adoção, relações afetivas adoecem e viram campo para abusos e traições. Assim, parentes exploram a boa-fé uns dos outros, colegas lhe sobrecarregam de trabalhos que você não tinha de fazer, vizinhos deseducados ultrapassam os seus direitos na convivência social e filhos egoístas abusam de seus limites.

Amar, antes de tudo, é saber se proteger dos problemas que competem a outros resolver. Você ama? Então incentive essa pessoa a acreditar em si para que ela mesma faça o que lhe compete e que somente a ela pertence. Amar não é ter dó. Essa pena que muitas pessoas sentem, no fundo, é um sintoma de desamor a si mesmo, de carência e de solidão. 

Quem ama de verdade acredita na capacidade alheia e, mesmo que se sensibilize com as limitações e dificuldades dos outros, se afastará desse estágio enfermiço nos domínios do sentimentalismo.
Incentive o amor-próprio do outro e cultive o seu também.

Autor: Wanderley Oliveira